Régis Barros: Diante da dor, o que resta ao médico psiquiatra…
Diante da dor, você escuta.
Diante da dor, você acolhe.
Diante da dor, você luta, mesmo sabendo que a dor, muitas vezes, é mais forte do que você.
Quando estamos diante da dor, é necessário encará-la, pois não há outra alternativa.
O psiquiatra precisa se opor à dor.
Opor-se à dor não é algo simples, fácil ou retilíneo.
Pelo contrário, é duro, sofrido e desgastante.
Mas, a despeito disso, faz-se necessário o ato de se colocar diante dela.
Quem sofre, exalando dor (física e/ou emocional), espera proteção.
Diante da dor, há de existir resistência.
Sem aqui propor fantasias quixotescas, afirmo que o sentido da medicina e, sobretudo da psiquiatria, aplica-se nisso – o ato de lidar, entender e acolher a dor do outro.
A cura, objeto tão desejado por todos, muitas vezes não é alcançada. Todavia, diante da dor, considero mandatório para o médico manter presente e pulsante esse desejo de lutar.
Claro que a medicina vive um momento ímpar em que a crise, na sua estrutura base de existência, é uma realidade. Lamento muito por isso.
No entanto, diante da dor, não há espaço para outros enredos que sejam diferentes do ato de cuidar, princípio fundamental da medicina e função primordial do médico.
Diante da dor, tão frequente nessa vida, o que resta e o que me resta, enquanto médico psiquiatra, é continuar lutando.
Dr. Régis Barros é médico psiquiatra. Mestre e doutor em Saúde Mental pela Faculdade de Medicina da Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).